{"id":6556,"date":"2025-07-04T20:16:14","date_gmt":"2025-07-04T23:16:14","guid":{"rendered":"https:\/\/marianaelizabethpsi.com.br\/?p=6556"},"modified":"2025-07-04T20:32:24","modified_gmt":"2025-07-04T23:32:24","slug":"logica-nao-importa-o-custo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/marianaelizabethpsi.com.br\/en\/logica-nao-importa-o-custo\/","title":{"rendered":"L\u00f3gica. N\u00e3o importa o custo?"},"content":{"rendered":"

At\u00e9 onde estamos dispostos a negar nossa experi\u00eancia em prol da constru\u00e7\u00e3o mental que um dia formulamos?\u00a0<\/em><\/p>\n

Esse texto \u00e9 fruto das reflex\u00f5es que vivi durante minha sess\u00e3o de terapia hoje. Compartilhei com minha analista uma decis\u00e3o recente: tranquei minha segunda p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o em Psicologia Anal\u00edtica. Percebi que, embora os professores fossem extremamente competentes e rigorosos, a sombra da institui\u00e7\u00e3o, para mim, se manifestava como algo excessivamente racionalista e at\u00e9 mesmo combativo.<\/p>\n

Ressalto o “para mim” e opto por n\u00e3o citar nomes, porque acredito profundamente que cada pessoa vive uma experi\u00eancia \u00fanica. No entanto, a minha viv\u00eancia estava se tornando limitada. Ao inv\u00e9s de me sentir enriquecida e inspirada, comecei a temer falar sobre psicologia. Cheguei \u00e0 conclus\u00e3o de que nenhum conhecimento vale o custo da minha espontaneidade, da minha voz, da minha alma.<\/p>\n

Minha analista disse algo importante: muitos vivenciam a Psicologia Anal\u00edtica, mas poucos acessam a Psicologia Complexa. Embora ambas sejam manifesta\u00e7\u00f5es do mesmo campo, elas ocorrem em dimens\u00f5es distintas. Uma \u00e9 mais acad\u00eamica e dogm\u00e1tica; a outra \u00e9 viva, numinosa e profunda.<\/p>\n

Essa reflex\u00e3o me remeteu imediatamente ao livro que escolhi para inaugurar meu clube do livro, um espa\u00e7o acolhedor e terap\u00eautico que montei selecionando a dedo cada convidada, e durante essa sele\u00e7\u00e3o fui guiada somente pela minha intui\u00e7\u00e3o. E deu muito certo! S\u00f3 tenho gratid\u00e3o por tanto! Outra hora compartilho mais sobre o clube, j\u00e1 que na semana que vem, faremos nosso \u00faltimo encontro para discutir exatamente esse livro.<\/p>\n

O livro em quest\u00e3o \u00e9 o romance realista-m\u00e1gico “Practical Magic”, escrito por Alice Hoffman em 1981 e adaptado para o cinema em 1998, com Sandra Bullock e Nicole Kidman (ali\u00e1s, uma sequ\u00eancia vem ai em 2026!). A hist\u00f3ria acompanha Sally e Gillian Owens, irm\u00e3s que pertencem a uma linhagem de bruxas com mais de 200 anos, criadas por tias que trabalhavam com bruxaria, s\u00e9rio, o ganha p\u00e3o delas era fruto dos trabalhos m\u00e1gicos e embora a cidade toda projetasse tudo que desse errado como culpa daquela fam\u00edlia, depois que o sol se retirava, as mulheres da cidade batiam na porta das Owens em busca de feiti\u00e7os de amor.<\/p>\n

O ponto central que conectei com minha sess\u00e3o de terapia est\u00e1 na personagem Sally Owens. \u00d3rf\u00e3s, ela e a irm\u00e3 cresceram na casa das tias assistindo de perto a magia desenrolar. Epis\u00f3dios m\u00e1gicos aconteceram a ela e ela inclusive testemunhou um feiti\u00e7o funcionando diante dos seus olhos! Mas mesmo assim, ela escolheu se fechar para a magia.<\/p>\n

E me pergunto: quantas vezes tamb\u00e9m n\u00f3s fechamos os olhos para a magia ao nosso redor?<\/em><\/p>\n

Tudo em prol do paradigma vigente.<\/p>\n

Mas a hist\u00f3ria j\u00e1 nos mostrou que, sempre que nossa arrog\u00e2ncia ofuscou nossa vis\u00e3o, ou seja, sempre que acredit\u00e1vamos termos esvaziado todo o mist\u00e9rio da natureza e cre\u00edmo-nos seus soberanos, uma descoberta chegava e colocava todo nosso modelo de realidade em cheque.<\/p>\n

A magia talvez n\u00e3o aconte\u00e7a da forma eg\u00f3ica, ou caricata, como vemos em filmes e s\u00e9ries, com varinhas m\u00e1gicas e desejos imediatos atendidos, mas ela existe.<\/p>\n

Est\u00e1 no sonho premonit\u00f3rio, no nome que nos vem \u00e0 cabe\u00e7a e logo em seguida o telefone toca e quando atendemos, para nossa surpresa, \u00e9 o dono do nome que responde, quase como se tivesse sido invocado. A magia est\u00e1 nos sussurros da nossa intui\u00e7\u00e3o e em outras sincronicidades que por maiores que sejam nossos esfor\u00e7os enquanto esp\u00e9cie humana de esvaziar o mundo de sua beleza e magia, ela resiste.<\/p>\n

Como disse Liz Greene:<\/p>\n

“Muitos dos temas estudados por Jung misturam diferentes esferas da experi\u00eancia humana: a arte serve como um instrumento m\u00e1gico, s\u00edmbolos astrol\u00f3gicos fornecem insights psicol\u00f3gicos, imagens dos sonhos abrem portas para experi\u00eancias religiosas disfar\u00e7adas de loucura, Deus e o inconsciente tornam-se indistingu\u00edveis, a medicina d\u00e1 as m\u00e3os aos rituais xam\u00e2nicos, e a sexualidade \u00e9 um rito m\u00e1gico sagrado.”\u00b9<\/p>\n

H\u00e1 mais de 100 anos o psiquiatra su\u00ed\u00e7o deu um salto de f\u00e9 no desconhecido e mergulhou nas profundezas do seu inconsciente. O ouro que ele trouxe de volta consigo – a descoberta da realidade da psique – vem transformando a nossa vis\u00e3o do que \u00e9 realidade, j\u00e1 que nada \u00e9, tudo est\u00e1 de acordo com o ponto referencial de quem observa<\/em>. Como disse o pr\u00f3prio Jung:<\/p>\n

“Limito-me a contemplar embevecido e respeitoso as profundezas e alturas da\u00a0natureza ps\u00edquica. Seu universo inespacial encerra uma quantidade\u00a0indiz\u00edvel de imagens que foram sendo acumuladas por milh\u00f5es de anos de\u00a0desenvolvimento dos seres vivos e se condensaram organicamente. Minha\u00a0consci\u00eancia \u00e9 como um olho que penetra nos espa\u00e7os mais long\u00ednquos, mas\u00a0\u00e9 o n\u00e3o eu ps\u00edquico que preenche este espa\u00e7o com imagens inespaciais.\u00a0Estas imagens n\u00e3o s\u00e3o p\u00e1lidas sombras, mas fatores ps\u00edquicos muito\u00a0poderosos. O m\u00e1ximo que podemos fazer \u00e9 interpret\u00e1-los mal, n\u00e3o, por\u00e9m,\u00a0roubar-lhes a for\u00e7a, negando-as. Al\u00e9m dessa imagem gostaria de lembrar o\u00a0espet\u00e1culo do c\u00e9u noturno estrelado, pois o equivalente do mundo de\u00a0dentro \u00e9 o mundo de fora; e assim como atinjo este mundo por meio do\u00a0corpo, atinjo aquele mundo por meio da psique.<\/p>\n

N\u00e3o gostaria, por isso, de lamentar as complica\u00e7\u00f5es da psicologia\u00a0trazidas por minhas contribui\u00e7\u00f5es, pois a ci\u00eancia se enganou redondamente\u00a0toda vez que achava ter descoberto como eram simples as coisas.”\u00b2<\/p>\n

Que possamos abrir nossos olhos para a magia real e profunda que vive em n\u00f3s e ao nosso redor.<\/p>\n

 <\/p>\n

 <\/p>\n

1 Greene, Jung’s studies in Astrology, Prophecy, Magic, and the Qualities of Time, p. 5.<\/p>\n

2 Jung, CW4, \u00b6764, 765.<\/p>\n

 <\/p>\n

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