Você já sabe que por aqui você encontra insights e spoilers né? hehe
Quem nunca imaginou “E SE…?”
Todos nós, em algum momento, nos pegamos imaginando cenários alternativos para nossas vidas. E se eu tivesse ficado com aquela pessoa? E se eu tivesse aceitado aquela proposta de emprego? E se eu tivesse mudado de cidade? Essas perguntas nos levam a um mundo de possibilidades e reflexões, onde cada decisão tomada ou evitada pode nos direcionar para caminhos completamente diferentes.
A série Dark Matter da Apple TV nos convida a explorar essas possibilidades ao extremo. A trama segue Jason, um cientista que cria uma caixa inspirada na teoria da caixa de Schrödinger. Essa caixa permite que ele viaje para uma realidade onde ele não terminou um relacionamento importante. Jason troca de lugar com seu “eu” dessa nova realidade e passa a viver como se estivesse casado nos últimos 15 anos. No entanto, há um grande problema: Jason não foi casado nos últimos 15 anos e não se transformou com um relacionamento longo. Ele não conhece a esposa e precisa lidar com as consequências de uma vida que ele não viveu.
Depois de cometer um erro e magoar sua esposa Daniela, Jason busca ajuda com a psiquiatra Amanda que, em sua realidade original, era sua namorada. Ao encontrá-la casada e bem, eles conversam, e ao final da consulta, ela faz uma observação crucial: “Você não parece alguém que foi casado nos últimos 15 anos.”
Essa cena me levou a duas reflexões importantes:
Jason acreditava que seu problema era ter terminado com Daniela e que, se estivesse em uma realidade onde isso não tivesse acontecido, ele seria mais feliz. No entanto, quando as coisas ficam difíceis, ele busca consolo justamente com Amanda, a namorada de sua realidade original. Para mim, isso destacou a projeção equivocada de Jason, pensando que sua felicidade dependia de uma pessoa ou de uma vida que ele não viveu.
Em minhas aulas de pós-graduação em neurociência, aprendi que o cérebro humano é altamente plástico, ou seja, cada interação, cada experiência, altera nossa estrutura cerebral. As nossas escolhas e as consequências delas moldam quem nos tornamos. Jason não passou pelos mesmos eventos e desafios que seu “eu” alternativo viveu durante os 15 anos de casamento. Seu cérebro não foi moldado por essas experiências, resultando em uma disparidade entre sua identidade e a realidade que ele tenta viver.
O que é Neuroplasticidade?
A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se reorganizar, formando novas conexões neuronais ao longo da vida. Essa característica é fundamental para a aprendizagem, a memória e a adaptação às novas situações. Quando vivemos experiências significativas, nosso cérebro se adapta e se modifica para refletir essas vivências.
Na série Dark Matter, Jason não passou pelos mesmos eventos e desafios que seu “eu” alternativo viveu durante os 15 anos de casamento. Seu cérebro não foi moldado por essas experiências, resultando em uma disparidade entre sua identidade e a realidade que ele tenta viver.
Refletindo sobre as Nossas Escolhas
A série nos convida a refletir sobre o impacto das nossas escolhas e como elas moldam nossa identidade. Cada decisão, por menor que seja, contribui para a construção de quem somos. As experiências acumuladas ao longo do tempo alteram nosso cérebro, influenciando nossas emoções, comportamentos e percepções.
Quando nos pegamos imaginando “E SE…”, é importante lembrar que, embora essas reflexões possam ser fascinantes, elas também podem nos consumir se não formos cuidadosos. Nossos “E SEs” quase sempre nos levam a acreditar que as coisas estariam melhores e que estaríamos mais satisfeitos, mas raramente refletimos sobre como o nosso agora pode ser o melhor dos nossos caminhos. Além disso, questionar nossa realidade também é questionar quem somos, pois cada experiência molda nossa identidade e percepção de mundo.
Ao invés de nos perdermos em cenários alternativos, podemos usar esses momentos para apreciar a jornada que nos trouxe até aqui e as lições que aprendemos ao longo do caminho.
Mas se você está encontrando dificuldade em ficar longe dos “E SEs” ou em gostar de quem você é, a terapia pode te ajudar. Ela pode te auxiliar a operar as transformações que você busca ou a fazer as pazes com os lugares que suas escolhas te trouxeram, além de ajudar a refletir melhor para fazer novas escolhas.
Conclusão
Dark Matter é muito mais do que mais uma série de ficção científica. É uma oportunidade de explorar de forma profunda e psicológica as possibilidades que cada escolha nos apresenta e como essas escolhas moldam nossa identidade e realidade. Ao assistirmos Jason navegar por uma vida que ele não viveu, somos convidados a refletir sobre nossas próprias vidas e a importância de cada decisão que tomamos.
Então, da próxima vez que você se pegar pensando nos “E SEs” da vida, lembre-se de como cada experiência tem o poder de moldar quem você é e como seu presente pode, na verdade, ser o melhor dos caminhos possíveis. E se você ainda não assistiu Dark Matter, recomendo fortemente que embarque nessa aventura de diversas realidades e autodescobertas num cenário de possibilidades infinitas.