Quando eu era criança, minha brincadeira favorita era brincar de Barbie. Hoje, com o lançamento do novo filme da Barbie (um live-action!) aproveitei para me jogar nas pesquisas sobre a boneca e o filme! Não foi surpresa que eu tenha me fascinado com sua criação e história!
Ruth Handler, a criadora da boneca Barbie, dizia: “A filosofia por trás da boneca era que, por meio dela, as meninas poderiam ser o que quisessem […] Barbie sempre representou que as mulheres têm escolhas!” No entanto, a realidade, como sempre, é mais complexa. Dentro e fora do filme, assistimos ao desenrolar de uma discussão levantando preocupações sobre como incentivar as meninas a serem tudo o que aspiram pode levar a frustrações futuras, uma vez que a realidade é que nem tudo é possível. E buscar certas aspirações pode ser custoso, ainda mais enquanto tentam se manter dentro do padrão esperado pela sociedade em relação à aparência.
A Mattel, a empresa por trás da Barbie, está ciente do crescimento dos movimentos sociais por igualdade e diversidade, inclusive o movimento feminista, e no filme é nítido como o movimento influenciou sua abordagem dos gêneros. Estamos cientes de que aderir a movimentos sociais está na moda nos dias de hoje, mas não podemos esquecer de outros movimentos igualmente importantes, que a Mattel parece ter esquecido de apoiar – contém ironia, pois é evidente que ela ESCOLHEU não apoiar ou abordar outras pautas. Por exemplo, os movimentos que buscam melhorar os direitos e condições de trabalho e proteger o meio ambiente. Essas questões frequentemente não são discutidas, e no filme, não é diferente. Talvez por medo de má publicidade, já que muitos sabem que a Mattel não proporciona condições éticas para os funcionários de suas fábricas e seus principais produtos são feitos de materiais não recicláveis.
Apesar do filme comentar um pouco sobre a discussão acerca da criação de expectativas irreais para as mulheres alcançarem, existe um debate acalorado nas redes sociais sobre se o filme foi ou não bem-sucedido em ensinar o feminismo. Enquanto outras pessoas apreciam que é uma peça de entretenimento feita por e para mulheres, que não necessariamente precisa educar ou provar um ponto. Isso mesmo, para mulheres não crianças! A classificação indicativa da idade adequada aponta para 13 anos e mais.
Embora todas essas informações não sejam o foco de nossa análise hoje, é essencial que comentemos sobre a situação atual para entender como, mesmo sabendo de tudo isso, continuamos em busca do sentimento de nostalgia e familiaridade que a Barbie representa. Isso pode estar associado a um problema que, embora se expresse no indivíduo, está se tornando um problema sistêmico: a luta do adulto contra o paraíso da infância.
Carl Gustav Jung, o pai da Psicologia Analítica, nos ensinou que as obras de arte são para a sociedade como os sonhos são para o indivíduo. Elas vêm com uma qualidade compensatória! No filme, a boneca Barbie deixa de ser apenas uma boneca com tonalidade infantil e passa pelo processo de tornar-se uma adulta humana. Passagem representada pela ação de Barbie deixar a Barbielândia, mundo que faz alusão a Terra do Nunca de Peter Pan, o menino que se recusou a crescer refugiando-se eternamente do mundo adulto na Terra do Nunca.
Ao mesmo tempo que o filme nos fisga pela nostalgia do brinquedo da infância, também envia uma mensagem poderosa à nossa psicologia: temos que viver no mundo real, não há outra opção. O filme de Greta Gerwig espelha nossa própria jornada da infância para a idade adulta.
BARBIELANDIA COMO PARAÍSO DA INFÂNCIA:
No início do filme, a Barbielândia é retratada como um mundo da imaginação, um paraíso da infância onde não existem problemas. Tudo é perfeito e o filme sintoniza muito bem com as brincadeiras da infância com a Barbie: a performance da atriz espelha os movimentos possíveis com a boneca, não existe água ou líquido, os objetos estão fora de proporção para causarem a ideia de um mundo plastificado, hora grandes demais como a escova de dente e a caixa de suco, e hora mais pequenos do que o esperado, como o carro da Barbie.
*Sem água real no chuveiro ou liquido na caixa de leite
* andando sobre a piscina
*flutuando ao invés de escadas ou o escorrega
Nessa primeira cena a ausência de espelhos pode simbolizar a falta de autorreflexão e autocrítica das bonecas. Essa falta pode explicar como as Barbies de Barbielândia não sofrem com a síndrome da impostora, caracterizada por uma auto-cobrança e autodúvida excessiva, onde a pessoa que sofre com essa síndrome, geralmente mulheres, colocam em dúvidas suas conquistas e sua competência.
Em Barbielândia as Barbies agradecem com orgulho os prêmios que recebem e dizem coisas como “eu sei” ou “eu trabalhei muito por isso”.
*falta de espelhos
Inclusive, habilidades que são histórica e socialmente mais incentivadas e desenvolvidas no gênero feminino, como a utilização da emoção para ajudar na tomada de decisões, são celebradas em Barbielândia. Em contraste com o mundo real, onde por vezes, mulheres são descreditadas no ambiente de trabalho e até constrangidas por demonstrarem emoções em ambiente profissional. Em Barbielândia as Barbies acreditam que unir sentimentos e razão melhora o desempenho, o que é verdade no mundo real também, mas não é reconhecido devido à qualidade machista que as estruturas organizacionais ainda perpetuam.
Essa valorização de habilidades e traços, historicamente atribuídos ao feminino, se expande pelo mundo todo de Barbielândia onde o cenário é carregado por tons pasteis e a estrutura política do mundo privilegia as Barbies em detrimento dos Kens.
REFLEXÕES SOBRE A MORTE E A VALORIZAÇÃO DA VIDA:
A jornada da personagem Barbie Estereotipada é um reflexo profundo do amadurecimento. A Barbie Estereotipada, assim como as outras Barbies e Kens, inicialmente apresenta uma ingenuidade infantil típica daqueles que ainda não conhecem todas as nuances e complexidades do mundo real. Vivendo em um ciclo de dias perfeitos e noites de festa, a Barbie Estereotipada parece alheia às questões mais profundas da vida. No entanto, quando ela começa a refletir sobre a morte, um tema frequentemente ignorado no mundo infantil da Barbielandia, as coisas começam a mudar.
Os pensamentos de Barbie sobre a morte evocam as ideias de renomados psiquiatras como Carl Gustav Jung e Irving Yalom. Jung acreditava que a morte poderia ser o fim da vida como a conhecemos, mas ele tinha dúvidas quanto à finalidade da existência completa. Por outro lado, Irving Yalom acreditava na finitude completa após a morte. Porém, independentemente de suas crenças sobre o que ocorre após a morte, ambos os psiquiatras concordavam que o fenômeno da morte é algo que coloca a própria vida em perspectiva, e dadas as devidas proporções, pode despertar no indivíduo uma maior vontade de viver a própria vida.
É apenas quando Barbie Estereotipada começa a se questionar sobre a morte que ela também começa a questionar se há mais na vida do que a repetição do mesmo dia perfeito, dia após dia. Mas é só quando mudanças radicais e sentidas como ameaçadoras começam a invadir seus dias que ela toma uma atitude. Ela acorda desarrumada e com mau hálito, encontra água do chuveiro em uma temperatura desagradável, sua torrada queima, o leite do café da manhã está azedo e vencido, e ela nota celulite nas pernas, perdendo a posição de salto alto dos pés para pés chatos. A queda da Barbie Estereotipada de sua Casa dos Sonhos, quando antes simplesmente flutuava até o chão, simboliza o início da transição da infância para a vida adulta, da queda do paraíso da infância para o início do contato com o mundo real.
Essas mudanças, apesar de não se limitarem apenas ao aspecto físico e também afetarem profundamente a psique da Barbie Estereotipada, só são levadas a sério por ela e suas amigas Barbies quando atingem o físico. De forma semelhante ao que enfrentamos em nossa sociedade, onde as doenças psíquicas são desvalorizadas e até mesmo desvalidadas, enquanto que os males físicos são prontamente atendidos.
A disrupção de seu mundo perfeito a deixa perplexa e em busca de respostas. É nesse momento de desconforto e questionamento que a Barbie Estereotipada cruza caminhos com a Barbie Estranha, uma Barbie que, devido às brincadeiras radicais e pesadas no mundo real, sofreu desfigurações em sua versão de Barbielandia. No entanto, a Barbie Estranha se destaca como uma figura sábia e experiente, capaz de consertar outras Barbies devido à sua vivência única. Ela acumulou sabedoria e conhecimento por ter passado por inúmeras adversidades e desafios, tornando-se uma figura de grande valor no universo da Barbie.
Este encontro entre a Barbie Estereotipada e a Barbie Estranha pode ser interpretado como um lembrete poderoso para os espectadores de que, por vezes, as pessoas que inicialmente podem parecer ‘estranhas’ ou diferentes têm experiências e conhecimentos valiosos que podem ser extremamente úteis para aqueles que precisam de ajuda. Convida-nos a olhar além das aparências superficiais e a reconhecer o valor da sabedoria adquirida através das experiências de vida. É a ideia que evoca ao arquétipo da velha sábia. A Barbie Estranha vive no topo de uma colina, isolada do restante de Barbielandia, no melhor estilo eremita.
Durante a visita na casa da Barbie Estranha, a Barbie Estereotipada descobre que um portal foi aberto entre ela, na Barbielândia, e a criança que estaria brincando com ela no mundo real através dos pensamentos sobre a morte. É interessante ressaltar que a Barbie Estranha explica que para o portal ter sido aberto, é preciso que ambas as partes desejem isso. Essa frase pode indicar um convite a Barbie Estereotipada a assumir a responsabilidade pelos acontecimentos em sua vida, não se considerando apenas uma vítima das circunstâncias.
Além disso, precisar de duas pessoas para abrir o portal evoca a ideia de relacionamento. Para Carl Gustav Jung a meta de vida de todos os seres humanos é o caminho da individuação, tornar-se quem realmente se é, afastando dos processos de massificação da sociedade e se constituindo como uma personalidade única. Jung deixa bem claro que ninguém se individua no alto do monte Everest, sozinho, mas sim em sociedade, em relações uns com os outros e, por isso, precisamos uns dos outros para, através dos relacionamentos que estabelecemos com o mundo externo, aprofundarmos e individuarmos o nosso próprio relacionamento, com as riquezas do nosso mundo interno.
Ainda durante a visita à casa da Barbie Estranha, a Barbie Estereotipada se depara com uma escolha que simboliza a transição de sua vida perfeita em Barbielandia para o mundo real, com todas as suas complexidades. A Barbie Estranha apresenta à Barbie Estereotipada dois sapatos, um pé de salto alto, representando a volta ao mundo das rotinas perfeitamente iguais e previsíveis, e uma papete que alude à simplicidade e ao contato com o mundo real.
Essa escolha faz referência a metáfora das pílulas no filme “Matrix”, onde a pílula azul permite que Neo esqueça a verdade de que o mundo foi tomado pelas máquinas e retorne à ignorância da Matrix, enquanto a pílula vermelha o conduz para o mundo real, cheio de desafios e incertezas. No entanto, a Barbie Estereotipada, apesar de ter questionado sua existência em um mundo de perfeição repetitiva, escolhe a segurança do conhecido, simbolizada pelo salto alto. Isso reflete um aspecto da psicologia humana observado por Carl Gustav Jung, onde a libido, ou energia psíquica, tende a regredir quando confrontada com o desconhecido, levando o indivíduo a buscar o retorno a um estágio anterior da vida que já foi superado.
Na cena, quando a Barbie Estranha confessa à Barbie Estereotipada que, na verdade, não existe escolha, que ela deve ir para o mundo real independentemente de sua decisão, que, inclusive, só tinha o objetivo de passar-lhe confiança e segurança, mas que não deu certo, a Barbie Estereotipada reage com uma atitude reminiscente de uma criança que deseja manter o controle sobre sua realidade, mas logo percebe que essa tentativa de se apegar ao familiar e ao previsível não funcionará no contexto da transição iminente para o mundo real.
CAINDO NA REAL
Quando chegam ao mundo real de patins eles chamam a atenção de todos. Seus trajes, inspirados na moda de Barbielandia, são uma explosão de cores neon, rosa choque e recortes que nos lembram a moda esportiva dos anos 80. As pessoas não conseguem evitar olhar para eles, e é nessa cena que a Barbie vivencia algo que muitas mulheres já experimentaram durante a transição da infância para a adolescência: uma consciência peculiar, por vezes negativa, sobre si mesmas. Enquanto Ken desfruta da sensação de ser admirado, a Barbie é confrontada com olhares e interações que carregam, como ela irá descrever, uma espécie de tonalidade de violência. Esta cena é uma representação impressionante da disparidade de gênero e da diferença entre a experiência de homens e mulheres nos espaços públicos.
A mesma localização, dois seres humanos, mas experiências completamente diferentes, tudo devido ao gênero. Essa cena ilustra vividamente a realidade das mulheres que enfrentam situações desconfortáveis e assédio quando navegam pelos espaços públicos. Também somos convidados a refletir sobre essas questões de gênero e sinto que destacar a importância de reconhecer e discutir essas experiências no mundo real é necessária.
Essa necessidade também é percebida e defendida por Sasha, a adolescente que a Barbie acha que é a contraparte responsável pela abertura do portal. Sasha é a protagonista da única vez que um diálogo anti-Barbie é entregue de forma direta ao público, mas a construção da cena pretende considerá-lo um pouco ridículo: a personagem, a adolescente cínica, passa de dizer que Barbie perpetua padrões de beleza sexistas e culmina chamando-a de fascista. “Eu não controlo os trens nem o fluxo do comércio! ” Barbie chora. Então, criticar a Barbie na cara dela é muito duro e exagerado?
Criticar um objeto utilizado como veículo para a imaginação de crianças buscando torna-lo mais inclusivo da diversidade humana e mais adequado para a saúde mental dos futuros cidadãos é essencial, pois é um dever de toda a sociedade zelar e proteger as crianças, inclusive sua psique infantil, até que os pequenos desenvolvam as habilidades necessárias para exercer o autocuidado. Mas no filme a Barbie Estereotipada aparece encarnada no corpo de uma mulher, caracteristicamente dentro do padrão de beleza imposto pela sociedade patriarcal às mulheres, mas ainda sim, uma mulher. Inclusive, Sasha acredita que ela tenha algum tipo de deficiência psicológica para acreditar que é a própria Barbie.
Sim, a ideia da boneca Barbie acabou por ser um totem representativo do capitalismo sexualizado, padrões de beleza irreais e está contribuindo para a destruição do planeta seja pela glamorização do consumismo desenfreado ou pelo fato das bonecas serem feitas de plástico. Sasha está coberta de razão nos seus argumentos, mas naquele momento ela não foi verdadeiramente feminista. O feminismo é sobre sororidade e tratar uma mulher, que até então ela pensava que tivesse deficiências psicológicas, de forma rude até fazê-la chorar, não me parece muito fraternal.
Acredito que a personagem Sasha seja uma sátira a todos que se dizem feministas pois compreendem a parte intelectual do movimento, mas que se perdem na execução. Colocar uma ideia acima de uma pessoa é justamente o que o movimento critica no machismo que não vê a mulher em sua singularidade, mas apenas uma cidadã genérica de segunda classe, e é exatamente isso que Sasha faz com a Barbie, uma mulher que ela acredita ter questões psicológicas, nessa cena. Me pergunto se o comportamento de Sasha não seria mais um dos agravantes da situação atual, que é maravilhosamente bem ilustrada por um diálogo entre Ken e um homem:
Aqui claramente é uma denúncia ao fato de que, apesar de vários avanços e conquistas do movimento feminista, essas vitorias não foram fruto de uma mudança de consciência onde todos perceberam que o patriarcado, apesar de aparentemente beneficiar os homens, não faz bem para nenhum dos gêneros.
Algumas pessoas colocaram a personagem Sasha como um dos exemplos mais flagrantes do sexismo de Barbie e uma metonímia para o argumento mais amplo que o filme está apresentando. Sasha é representada como uma jovem inteligente e segura de si, furiosa com o sexismo que a sociedade impõe a ela. No que diz respeito ao filme, isso reflete uma infeliz rigidez por parte de Sasha, que criou uma barreira entre ela e sua mãe, Gloria. O problema é magicamente resolvido quando Sasha e Gloria viajam para Barbielandia, onde Sasha aprende a relaxar um pouco e se apaixonar pelo potencial mágico da Barbie. Para ressaltar essa transformação, cada vez que ela aparece na tela, o cabelo, a maquiagem e o figurino dela ficam mais elaborados, mais femininos e mais rosados. A relação entre mãe e filha é curada e Sasha retorna ao mundo real ainda melhor por ter abraçado a Barbie que existe dentro de si.
A forma que eu vejo a viagem a Barbilândia só foi possível por Gloria ser um adulto funcional que abraça as oportunidades, inclusive a oportunidade de viver uma aventura com seu brinquedo favorito e a filha, e só se divertir. Quando elas chegam à Barbielândia e percebem que o patriarcado contaminou as Barbies, é Glória quem aponta que as Barbies sofreram uma contaminação psíquica e que elas não têm anticorpos para lidar contra essa infestação. Também é Glória quem profere o discurso profundo das dificuldades do que é ser uma mulher no mundo real e que a partir disso, liberta as Barbies do vírus psíquico do patriarcado.
Para aqueles familiarizados com a produção textual sobre o movimento feminista, o discurso de Glória pode ter soado simplório, mas foi eficaz mesmo assim, pois várias mulheres puderam estabelecer ligação emocional com suas palavras. Não foi raro ouvir de pessoas ao meu redor como o discurso as afetou e como foi nessa cena que derramaram lágrimas. A simplicidade não ofusca o caráter revolucionário de uma cena como essa em um filme com tanta relevância no cenário pop. E acredito que para além de Sasha abraçar sua barbie interior o que aconteceu nessa viagem a Barbielandia foi Sasha ter visto Glória, para além da imago Mãe, mas como mulher.
Nessa viagem Sasha compreende que a mãe é uma mulher que vive as dificuldades do gênero, que tem consciência sobre elas, mas que mesmo assim, não destila ódio para as pessoas ao seu redor. Glória cura Sasha no sentido de que ensina para a filha de que há outras possibilidades de viver o feminino e Sasha cura Glória quando aceita e incentiva as habilidades artísticas da mãe, pelas quais ela expressa uma parte sua reprimida: “seus desenhos são tudo aquilo que você finge não ser”. Glória ensina Sasha a aceitar o lado iluminado do feminino e Sasha ensina Glória a aceitar seu feminino sombrio. Ambos necessários para uma experiência sadia da energia.
A Barbie Estereotipada passa por momentos difíceis em Barbielândia, no começo ela bate o pé, esperneia, quer sua casa dos sonhos de volta na base da birra. Depois, ela entra em um estado de desesperança pura. Diz que vai ficar ali até que uma das Barbies mais bem preparadas acorde para a vida e faça algo a respeito do patriarcado dos Kens. Mas com a ajuda de Glória, Sasha e as outras Barbies que não estavam sob o efeito das ideias do mundo real, elas recuperam a Barbielandia a partir do trabalho em equipe.
A soberania das Barbies sob os Kens é restabelecida, todos se preparam para voltar para suas vidas até que a Barbie Estereotipada diz que não quer mais esse futuro para ela. Ela se encontra com a sua criadora e após Ruth Handler mostrar para ela o que é ser um humano, a Barbie Estereotipada escolhe mesmo assim tornar-se humana. Da infantilidade da Barbielandia, a autoconsciência adolescente do mundo real, agora a Barbie Estereotipada torna-se Barbara Handler, uma adulta que aprendeu a trabalhar em equipe, é consciente do que significa ser uma mulher e disse sim a vida.
Ela escolheu de forma consciente ser uma criadora de significado, ser quem imagina, não quem é imaginado. Ser o ser. E não a mera ideia. O filme ensina a necessidade de nós desenvolvermos consciência de quem somos e de como é o mundo ao nosso redor, a necessidade de fazermos uma escolha consciente sobre viver como adultos e a importância do trabalho em equipe, o viver bem em sociedade. Mas para além, o filme ensina que nós somos quem imagina, uma ode a espontaneidade. Quando nos editamos demais, retocamos personalidade ou pensamos muito sobre ser, não estamos sendo, estamos performando uma ideia em detrimento da nossa realidade interna.
E ai, fez sentido para você?
Você também pode ouvir meu podcast A Psique em Palavras, onde explorei esse tema junto: